Formas de fazer e pensar jornalismo na cidade será tema da mesa da noite desta terça-feira (30)
O jornalismo literário é uma forma específica do fazer Jornalístico. Consiste em expor a realidade de forma mais literal, buscando na subjetividade uma maneira de se destacar do jornalismo factual. No jornalismo literário, temos um ponto de vista diferenciado do escritor-jornalista, trabalhado muitas vezes de forma mais artística. Não se trata somente de transgredir as orientações que geralmente seguimos na construção do jornalismo convencional, como o lead, pirâmide invertida etc. É algo que vai além, pois vemos a realidade mais sensorial do que descritiva. O jornalismo literário utiliza-se de alguns recursos da literatura para aumentar a sua potencialidade expressiva. Assim, temos uma narrativa que proporciona uma visão mais ampla da realidade de uma cidade.A busca pela permanência na memória do leitor é o que diferencia o jornalismo literário do jornalismo factual. Felipe Pena, professor de Jornalismo da Universidade Federal Fluminense, diz que o jornalismo literário rompe com duas características do jornalismo contemporâneo: a periodicidade e a atualidade. Temos, por exemplo, a crônica, que compõe o jornalismo literário. Apesar de ainda ser veiculada em meio impresso, a crônica vem perdendo cada vez mais espaço nesse tipo plataforma.
O jornalismo literário tem uma relação íntima com a cidade, pois é a partir desse estilo de escrita que podemos ter olhares diversos sobre o espaço urbano. A crônica, dentro dos subgêneros do jornalismo literário, possui uma característica que a aproxima da realidade da cidade. Ela é composta por acontecimentos cotidianos, ou seja, pelas experiências de cada cidadão, de cada espaço e de cada atividade vivenciadas na cidade.
O cronista e a cidade são como que almas gêmeas
Para sabermos mais a respeito de como se dá atualmente essa relação entre jornalismo literário e cidade, procuramos Ronaldo Salgado (foto) que é professor de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará e mestre em Letras pela mesma instituição. Segundo o professor, “O Jornalismo Literário é um gênero à parte do Jornalismo. Naturalmente, nos dias de hoje, não está sendo tão praticado quanto em outras épocas, embora aqui e acolá você consiga identificar algum profissional ou algum veículo de comunicação que permita esse tipo de prática”. O Jornal O Povo, por exemplo, publica matérias da jornalista Ana Meyre Carneiro Cavalcante, que possui um olhar diferenciado sobre cidade e muitas vezes para expressá-lo ela se vale do jornalismo literário. “No Brasil, hoje, quem faz Jornalismo Literário com maior evidência é a Eliane Brum [colunista da Revista Época]” afirma o professor.
Ronaldo Salgado afirma que o cronista e a cidade são como que almas gêmeas. Essa relação indissociável existe porque ambos os lados são ligados pelas experiências cotidianas que os envolvem. “A crônica tem um vínculo muito forte com a cidade, com as esquinas, com as ruas, com os botecos, com os bares e os botequins, com os mercados públicos, com as praças, enfim. Quando você se mete a andar como andarilho pelos espaços urbanos da cidade, quando você se permite esse entrechoque com a multidão, com as pessoas, então você está simplesmente apto a absorver essas experiências da geografia humana, essas experiências do outro”, afirma o professor. A cidade é fruto da modernidade e em meio à atualidade precisamos de um olhar diferenciado. O cronista tem esse olhar diferenciado, o olhar dele é uma olhar apaixonado. “[...] é bom que o cronista, ou o observador, ou o repórter, quando ele saia à rua, saia com seu bloco, saia com a sua caneta, saia com a sua visão absolutamente sintonizada com o que ele está vendo [...] O mais importante é estar atento, é ter o coração aberto para se deixar tocar pela sensibilidade, pela subjetividade que passeiam por esses locais”.
"A crônica é um gênero vivo"
A crônica tem relação com a cidade e com a memória, pois na medida em que vamos descrevemos de forma literária espaços e situações que envolvem o cenário da cidade, estamos criando também a memória dessa cidade e de cada personagem. É como uma memória individual, de um fato específico, que com o tempo torna-se parte de uma memória coletiva. O jornalismo literário busca, de fato, mostrar ao leitor um fato cotidiano de uma forma envolvente e contagiante. Ronaldo Salgado enfatiza: “A crônica, ela é para mover a vida das pessoas, ela não é um gênero morto, é um gênero vivo, especial”.
O olhar do escritor-jornalista pode está na calçada ou no mercado, mas sempre estará impregnado de um desejo de levar ao leitor muito mais do que se pode ver, algo que através da leitura se possa sentir. A dedicação do jornalista com a cidade é o que fortalece a relação íntima existente entre jornalismo literário e cidade. Ao ser questionado sobre o futuro da crônica, Ronaldo Salgado acredita que ela está vinculada ao jornal impresso e para onde ele for, ela irá também. "Se o futuro do jornal impresso for se tornar jornal digital, teremos a crônica nessa nova interface também. Pra durar, inclusive, aquele mesmo tempo que o jornal dura", comenta.
Crônica, jornalismo literário e modos de se fazer e pensar jornalismo na cidade serão debatidos na mesa de hoje a noite (30), às 18h, no Auditório Rachel de Queiroz (Centro de Humanidades I).
Letícia Alves e JonasViana
estudantes de Jornalismo da UFC
estudantes de Jornalismo da UFC
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